"Escrever na infinita página"

São palavras de José Saramago, a propósito da escrita na blogosfera.
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A respeito dos quatrocentos anos do nascimento do Padre António Vieira, deixo aqui um excerto retirado do Sermão de Santo António aos Peixes, que continua, infelizmente, bem actual, aliás, como todas as suas palavras. É o próprio Saramago que, numa entrevista ao JL(994), a propósito do seu mais recente livro, A Viagem do Elefante, refere essa influência de Vieira: «[...] há também toda a importância de Padre António Vieira, a prosa do Barroco...»; «É uma influência que não nego.»
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«Quero acabar este discurso dos louvores e virtudes dos peixes com um, que não sei se foi ouvinte de Santo António e aprendeu dele a pregar. A verdade é que me pregou a mim, e se eu fora outro, também me convertera. Navegando de aqui para o Pará [...], vi correr pela tona da água de quando em quando, a saltos, um cardume de peixinhos que não conhecia; e como me disseram que os Portugueses lhe chamavam quatro-olhos, quis averiguar ocularmente a razão deste nome, e achei que verdadeiramente têm quatro olhos, em tudo cabais e perfeitos. [...] Tantos instrumentos de vista a um bichinho do mar, nas praias daquelas mesmas terras vastíssimas, onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?! Oh quão altas e incompreensíveis são as razões de Deus, e quão profundo o abismo de seus juízos!»
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Outra influência anunciada por Saramago é a de Garrett: «Mas a leitura das Viagens teve muita influência para mim. Aliás, devíamos ler mais Garrett. Por exemplo, os Discursos Parlamentares, são um deslumbramento, quer na linguagem, quer na articulação do raciocínio político, quer no aspecto da polémica. São uma lição de português, de uma riqueza inesgotável e pouca gente os conhece.»
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"Costumo dizer: «Não leiam os meus livros, leiam as minhas epígrafes». A deste livro é assim: «Sempre acabaremos por chegar aonde nos esperam»."

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