As origens da Lapinha



«É com este termo que na Madeira se designam os «presépios», que desde séculos tão generalizados estão entre nós. Julgamo-lo uma palavra peculiar deste arquipélago. Deve ser o diminutivo de «lapa» com o significado de furna, gruta ou cavidade aberta em um rochedo, por analogia ou semelhança com o local do nascimento do Divino Redentor. É possível que em outros tempos conservassem essa analogia ou semelhança, mas, ao presente e na generalidade, as «lapinhas» madeirenses são armadas sôbre uma mesa, tendo como centro uma pequena escada de poucos decímetros de altura, de três lanços contíguos, e no topo da qual se coloca a imagem do Menino Jesus. Em todos os degraus da escada e em torno dela estão dispostos os «pastores» e vários objectos de ornato, por vezes bem estranhos e sem próxima afinidade com o resto do presépio. Em obediência às condições do meio, terão algumas características próprias, como sejam as ornamentações com os ramos do arbusto «alegra-campo» e dos fetos «cabrinhas», que lhes imprimem uma feição pitoresca e alegre. Terão uma certa originalidade os chamados «pastores», isto é, pequenas figuras de barro de grosseiro fabrico local, que quási sempre não representam pastores ou zagais mas indivíduos das várias camadas sociais.

Ainda são muito vulgares as «lapinhas» com as chamadas «rochinhas», consistindo estas no simulacro de um pequeno trecho de terreno muito acidentado, feito de «socas» de canavieira e que geralmente conserva na base uma pequena «furna» representando o presépio em minúsculas figuras de barro.

Existiam, mas hoje são já muito raras, estas mesmas «rochas», talhadas em maiores proporções e em que se viam igrejas, estradas, pequenas povoações etc., embora sem grande harmonia no conjunto, mas oferecendo um certo e original pitoresco.»
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Fernando Augusto da Silva, Elucidário Madeirense



O presépio tradicional algarvio deverá estar na origem da "lapinha" em escada.
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«A região da Provença (sul de França) foi o grande centro de irradiação do presépio com raízes medievais. No Natal, surge o Menino Jesus glorioso, triunfante, o Salvador, o Senhor e Rei do mundo.

Este presépio foi levado pelos portugueses para a Ilha da Madeira, para os Açores e para o Brasil. Em Portugal, ainda podemos ver este presépio no Baixo Alentejo e no Algarve.

O presépio tradicional algarvio conserva as raízes medievais. É um trono ou altar armado em escadaria. O Menino Jesus está de pé, no cimo do trono. À volta coloca-se verdura, ramos de laranjeira. Na escadaria colocam-se laranjas e searinhas germinadas.

Cerca de 9 dias antes do Natal as famílias preparavam-se para "armar o Presépio" ou "armar o Menino", geralmente em cima de uma cómoda na entrada da casa. Lavava-se a casa e colocava-se uma toalha branca com rendas sobre a dita cómoda, sobre a qual se armava um altar em escadaria, com 3 ou mais degraus, também eles cobertos por toalhas bordadas ou rendas. No topo do trono era colocado o Menino.

Para tornar a decoração mais rica, eram adicionadas laranjas, com a respectiva rama, e searinhas de trigo. A colocação destes elementos tinha também o propósito de que o Menino abençoasse as colheitas do próximo ano.

No início da década de oitenta o Pe. José da Cunha Duarte, pároco de São Brás de Alportel iniciou a recolha das imagens feitas pelos pinta-santos algarvios. Na Igreja Matriz arma-se o presépio tradicional, em escadaria, com laranjas e searinhas e o Menino em cima do trono. A igreja também se reveste de panos como foi tradição nos séculos XVII e XIX.»

Retirado de http://www.agencia.ecclesia.pt

Comentários

Anónimo disse…
muito obrigado pela vossa informacao
tony jorge
australia

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