Faça dinheiro sem esforço

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O veludilho das palavras

PALAVRAS

Dispo as palavras
e não as sei vestir.
Peso os seus ombros
com rumores indizíveis.
Aqueço as suas mãos
com o bafo da minha alma.
Envelheço seu rosto
com as rugas
das minhas cicatrizes.
Aproximo seus pés do mar
e chamo-lhes barco.
Pinto a sua voz de silêncio
e sento-as no regaço do sol.
Atiro o seu corpo
para fora do tempo
e respiro-as nas ruínas trémulas das areias.
Cubro seus cabelos
com as árvores
onde dormem os pássaros.
Devoro-as com esta sede
de dizer o infinito.
Dispo as palavras
e a sua sombra sou eu!

Délia Caires
...
Encontrei este poema no primeiro número da revista "Margem 2" e achei-o soberbo. Por isso, tomei a ousadia de o partilhar. Espero que a Délia Caires me não leve a mal, mas, como Ulisses, não poderia tapar os ouvidos com cera perante a voz das Sereias.

Sem comentários: