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sábado, 25 de abril de 2009

O que faz falta, Zeca?


Festejamos hoje os 35 anos da Revolução dos Cravos, como ficou conhecido o golpe militar que pôs termo a mais de 40 anos de ditadura.

Do rol variado de restrições que então se impunham e que a «Primavera marcelista» não soube ou não quis extinguir, destaco a censura de tudo o que então se escrevia. Sob o olhar atento dos censores, mais preocupados com palavras sediciosas do que com a qualidade da escrita, estendiam-se, carrancudos, os traços do lápis azul e, encimando uma folha, o rotundo “VISADO”.

Sem dúvida que a Revolução nos possibilitou definir um caminho político para o nosso país, construído em diálogo, confronto de ideias ou ideais, muitas das vezes acalorados, demasiado românticos e, pior, com ajustes de rua, atentados, motins, que, por pouco, nos iam projectando para uma guerra fratricida.

Apesar de tudo, as hostes acalmaram, muito no espírito do Condestável Nuno Álvares Pereira, que, garantida a integridade da nação, se recolheu do campo das batalhas políticas para se dedicar à espiritualidade e às benfeitorias.

Não me espanta, assim, que também muitos dos que se envolveram nas lutas democráticas do 25 de Abril se tenham, mais tarde ou mais cedo, afastado, como o incontornável Salgueiro Maia, que nada mais quis de Abril senão o espírito de mudança e o inconformismo que impulsionam o Homem a procurar a Liberdade para as suas gentes.

Olha-se, hoje em dia, para a política e para os políticos, na sua maioria antigos activistas de lutas em prol da democracia, ou que se gabam disso, e vemo-los mais interessados com as questões internas dos seus partidos, ou deles próprios, do que com o País, com os ideais de esquerda ou de direita, protecção social, justiça, segurança, estabilidade, verdade, por que, creio, lutaram no PREC.

Cansamo-nos da corrupção, dos escândalos da classe política, dos compadrios, das injustiças sociais e de um regime democrático onde os deputados são escolhidos pelos partidos para serem mandatados pela população a seguirem, quase sempre, uma disciplina de voto partidário. O deputado, mais do que estar ao serviço do povo, está ao serviço do partido, que, quantas vezes, contraria o seu programa eleitoral, apresentado em festa no calor de uma campanha milionária.

Muitas vezes penso no rotativismo dos partidos liberais, na segunda metade do século XIX, e imagino se não teremos caído no mesmo marasmo. Lemos as críticas da imprensa da altura e vemos os magníficos desenhos humorísticos de Rafael Bordalo Pinheiro com um pensamento de actualidade a tocar-nos bem fundo.

É extraordinário como evoluímos tanto ao nível tecnológico e como marcamos passo no humanismo, na evolução de mentalidades, neste servilismo económico que amarra muitos a poucos.

Dizem-me que sou um dos “filhos” de Abril. Tento acreditar, de verdade! Por isso, afasto os fantasmas da descolonização atabalhoada, dos atentados à bomba, das autopromoções, do depauperamento das reservas financeiras, para acreditar que, para além do que falhou entretanto, hoje não nos deixamos manietar por despotismos irracionais.

O que faz falta, Zeca, à malta?

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