EM BARAÇO

Estamos no início de um novo ano lectivo, o que suscita sempre grande interesse da parte da comunicação social. As razões são várias, indo desde as despesas com a educação, disfuncionalidades no sistema de ensino, incentivos governamentais, até às borbulhantes estatísticas, para todos os gostos e com as mais variadas interpretações, ao sabor dos interesses de cada posição.

Ora, a respeito de todas as considerações que já se explanaram sobre uma melhoria de resultados escolares, o que é óptimo, ficamos sempre com alguma desconfiança acerca destes repentinos sucessos. Se calhar, é a nossa própria matriz genética que nos leva à relativização das boas notícias, sobretudo em determinadas áreas. Pintam-nos a situação com cores tão negras que, quase de rajada, quando vemos resultados tão positivos num tão curto espaço temporal, tendemos para a alucinação e voltamos a ler a notícia ou esperamos por um novo serviço noticioso, para aí, sim, ouvirmos com atenção as boas novas. Também, por outro lado, estamos tão habituados a observar quadros estatísticos a partir de baixo que, às vezes, até pensamos que Portugal não foi considerado naquele estudo. Muito mau para constar?

Em mais um estudo da OCDE, parece que Portugal lá fez jus às suas mediáticas posições e apareceu em último lugar, no seio da UE, no que respeita ao tempo empregue para o ensino da sua língua.

No 2.º ciclo do ensino básico a situação é pior do que no 3.º, porque neste último somamos alguns pontos e conseguimos ultrapassar a Holanda (parece que não é só no futebol!).

Segundo o relatório da OCDE, Education at a Glance, a escrita, a leitura e a literatura ocupam apenas 15% do currículo português, ao passo que na UE a 19 e na OCDE as médias vão, imagine-se, dos 25 aos 23 por cento, respectivamente. Contudo, os nossos alunos têm, em média, um número de horas de aulas superior à OCDE, com um currículo mais diversificado, essencialmente nas artes e nas áreas curriculares não-disciplinares.

Se formos à Matemática, a situação não difere muito da língua portuguesa, embora aí os dados sejam de 12 por cento contra 16 da OCDE.

Para além de mais uns quantos périplos pela organização de trabalho dos professores (da OCDE, são os que dão mais horas de aulas e os que são obrigados a permanecer mais tempo na escola, embora tendo um horário de trabalho global inferior), também é, mais uma vez, referido que, por um lado, os docentes no topo da carreira auferem 2,5 vezes mais do que os que estão no início e, por outro, que continuamos a ter um reduzido número de alunos por turma no nosso país.

É dito ainda que conseguimos atingir uma percentagem de 44 por cento de jovens adultos a completar o secundário, o que nos permite empatar, no final da tabela, com o México. Todavia, esta percentagem demonstra uma excelente evolução ao nível da gerações mais jovens.

Onde vencemos mesmo, sem concorrência, é na frequência de doutoramentos (7,2 por cento contra a média da OCDE de 2,8), o que vem demonstrar que, em grande parte, na ausência de saídas profissionais expectantes, se opta pela continuação de estudos, investindo em formação que por vezes não é devidamente considerada no mundo do trabalho.

Ainda bem que neste início de ano lectivo vamos ouvindo boas notícias a respeito de sucessos escolares, mas espero que estes lampejos não sejam fruto do tão discutido “facilitismo” que se vai sentindo, numa pressão para a melhoria estatística, descurando a formação humana e científica.

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