Sugestão de Catarina Trigo
Este espaço foi criado com o intuito de dar à língua. Claro está que dar à língua uns minutos de atenção devida não se deve limitar ao diz-que-diz-que ou ao dize-tu-direi-eu. Digamos que essa parte estará mais destinada ao falario que, certamente, se há-de gerar a propósito de coisas e loisas que o momento acalentar. O nosso propósito será, agora num tom mais circunspecto, dar à língua portuguesa um espaço de partilha e discussão sobre tudo o que lhe diga, de alguma forma, respeito.
domingo, 30 de novembro de 2008
sábado, 29 de novembro de 2008
Parabéns, Pedro Barroso, "O último trovador".
Pedro Barroso nasceu, em Lisboa, no dia 28 de Novembro de 1950.
"Menina dos Olhos de Água"
Pedro Barroso
Menina em teu peito sinto o Tejo
E vontades marinheiras de aproar
Menina em teus lábios sinto fontes
De água doce que corre sem parar
Menina em teus olhos vejo espelhos
E em teus cabelos nuvens de encantar
E em teu corpo inteiro sinto feno
Rijo e tenro que nem sei explicar
Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar
Que eu só por mim quero-te tanto
Que não vai haver menina para sobrar
Aprendi nos 'Esteiros' com Soeiro
E aprendi na 'Fanga' com Redol
Tenho no rio grande o mundo inteiro
E sinto o mundo inteiro no teu colo
Aprendi a amar a madrugada
Que desponta em mim quando sorris
És um rio cheio de água lavada
E dás rumo à fragata que escolhi
Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar
Que eu só por mim quero-te tanto
Que não vai haver menina para sobrar
Faça uma visita:
"Intervalo" - Per7ume
A enriquecer este tema, está ainda a participação especial de Rui Veloso.
O projecto Per7ume foi idealizado no Porto em 2007 e integra A. J. Santos na voz e guitarra, José Meireles na guitarra, Bruno Oliveira na bateria, Nelson Reis no baixo e Elísio Donas (ex-Ornatos Violeta) nos teclados.
A letra, sugestiva, é da autoria de A. J. Santos.
Vida em câmara lenta,
Oito ou oitenta,
Sinto que vou emergir,
Já sei de cor todas as canções de amor,
Para a conquista partir.
Diz que tenho sal,
Não me deixes mal,
Não me deixes
No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Notícia do jornal
O quadro minimal
Sou eu
Vida à média rés,
Levanta os pés
Não vás em futebóis, apesar
Do intervalo, que é quando eu falo,
Para não me incomodar.
Diz que tenho sal,
Não me deixes mal,
Não me deixes
No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Notícia do jornal
O quadro minimal
Sou eu
Não me deixes já
História que não terminou
Não me deixes
No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Notícia do jornal
O quadro minimal
Sou eu
No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Notícia do jornal
O quadro minimal
Sou eu
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Simulacro e simulação
Após ter surgido a dúvida se se poderia utilizar as palavras simulacro e simulação como sinónimos no que se refere a exercícios de preparação para o combate a incêndios, consultei alguns dicionários, e até o ciberdúvidas.
Assim: simulação refere-se ao acto ou efeito de simular, fingimento; simulacro é uma imagem, cópia ou reprodução imperfeita, acção simulada (entre outros significados possíveis).
Conclui-se, simulação e simulacro são sinónimos "em vários contextos , nomeadamente no que se refere aos exercícios de preparação para o combate a incêndios." (A. Tavares Louro em ciberdúvidas)
"Como são exercícios próximos da preparacão militar, a palavra mais usada é simulacro. Simulação apenas se usa como sinónimo pouco frequente." (A. Tavares Louro em ciberdúvidas)
domingo, 23 de novembro de 2008
O poder da palavra
(imagem: fonte)
Dei por mim, hoje, a pensar em algo que ouvira ainda ontem numa pequena reunião de pais organizada por um padre. A determinada altura referia-se ao “poder da palavra.”
Realmente, quer seja na oralidade, quer seja na escrita, a palavra assume o papel central na comunicação, simplesmente porque comunicamos pela palavra.
Dei por mim a pensar, também, no Ensaio sobre a Cegueira de Saramago, mas desta vez cogitei um semelhante ensaio sobre a surdez. Como? Concebamos uma situação análoga na qual as pessoas seriam afectadas por uma epidemia que os impossibilitasse de ouvir. Isso levaria a que, em parte, a nossa comunicação com o outro se alterasse, na oralidade. Aqui, a comunicação manter-se-ia mas modificada, continuaria mas restringida à palavra escrita ou gestual. Para nós, habituados a ouvir e a fazer-se ouvir seria uma cruel realidade.
Mas voltemos à ideia inicial, o poder da palavra. Não fora esse poder, não estaria aqui, agora, a idear um qualquer texto para transmitir aquilo que a razão me leva a redigir. Leva-me a meditar sobre o título que um dia atribuímos a este blogue.
Gostaria simplesmente de deixar-vos a reflexão sobre o poder da palavra, da magia encerrada em cada um das vocábulos que utilizamos, por vezes banalmente, por outras sensatamente. Todos os dias, o ser humano vibra com o poder da palavra.
"Diário de Blindness"
«(…) Apesar de feliz pelo encontro [com José Saramago], aquela noite me deixou apreensivo. Por ter sempre se recusado a vender os direitos de seus livros para adaptação (“cinema destrói a imaginação”), achei que ele não estivesse interessado no filme.
Para meu desespero, estava enganado. Ele estava bastante interessado, perguntou várias vezes quando ficaria pronto ou quando poderia assistir a algo. Depois do nosso encontro, me mandou um e-mail dispondo-se a colaborar caso eu precisasse e dizendo-se totalmente confiante em relação ao nosso trabalho. Antes ele não estivesse tão confiante assim, o risco de uma grande decepção seria menor. Sei que nenhuma projecção desse filme será tão tensa quanto a que farei para apresentá-lo ao autor da história.»
"Escrever na infinita página"
Arquipélago das palavras
Adriano Moreira, presidente da Academia de Ciências de Lisboa
sábado, 22 de novembro de 2008
"Um Outro Amor", de Pacman
Conhecemo-lo como a figura que emerge nos Da Weasel, mas há muito que Carlos Nobre Neves (nome de guerra: Pacman) é um observador atento do quotidiano e cronista assíduo. A edição de Um Outro Amor resume alguns dos textos escritos para o Correio da Manhã, nos últimos dois anos e meio. A ideia não é, contudo, nova, porque há mais de dez anos que conhece o editor da Oficina do Livro, António Lobato Faria, por intermédio do então manager dos Da Weasel e guru da noite lisboeta, Hernâni Miguel. "Reuníamo-nos nas tertúlias do Targus e, na altura, o Hernâni sugeriu que houvesse material com interesse. Mostrei uns textos ao António. Eram poemas e shortstories que já foram à vida. Era lixo mas ficou no ar a ideia", explica-nos Pacman.
...
O amor pela escrita é, de resto, uma paixão que o rapper agora tornado escritor não esconde. A lírica dos Da Weasel assim o diz. Um Outro Amor concretiza o passo que faltava. "Apesar da minha preponderância ser a escrita e não a voz, gosto de escrever num outro formato que não apenas para canção. No fundo, é o mesmo amor mas num outro contexto." E assim se explica também um título que sugere uma segunda paixão.
...
No livro, podem encontrar-se referências díspares. O Benfica (ainda uma outra paixão) e Barack Obama convivem pacificamente com alguns dos companheiros da criação de Pacman. Por isso, "há sempre assunto mas é preciso estar direccionado", defende. "Numa semana posso escrever sobre uma coisa fútil e na outra sobre o Barack Obama", acrescenta, não esquecendo um texto sobre "formigas na casa de banho".
...
Na última segunda-feira, durante a apresentação de Um Outro Amor, António Lobato Faria referiu que Pacman é uma excepção num espaço de cronistas pouco habituado a espíritos tão jovens. O contexto não é recusado, embora a diferença se possa explicar pela "linguagem descontraída e directa que não é básica". Sem pruridos, assume que procura "não complicar", o que também se materializa numa escrita "espontânea". Pacman procura não se levar "muito a sério", embora reconheça que "nem sempre é muito fácil", especialmente quando "já há muitas pessoas a cuidar do teu bebé". E quanto à exposição, "faz sentido neste contexto específico". Tal como a homenagem à Mulher.
...
Mas a brincadeira, essa, está sempre presente como ilustra uma crónica em que relata um momento de partilha com o amigo Manel Cruz. "O que tento fazer é levar as coisas com descontracção sem me armar em artista." Extensão disso mesmo, as alusões recorrentes à Margem Sul revelam "um espaço humano mais do que físico". O Pacman que se fartava de bater recordes no jogo com o mesmo nome cresceu, mas continua a fazer como Chico Buarque: "Faz duas vezes, antes de pensares."
...
Prémio Sharjah 2008, da Unesco, para Adalberto Alves
Adalberto Alves, que preside actualmente ao Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, foi laureado na sequência de recomendações de um júri internacional que analisou 33 candidaturas, apresentadas por 20 Estados-membros da UNESCO.
Para Adalberto Alves, receber este prémio "é o coroar de muitos anos de trabalho de divulgação da herança árabe na cultura portuguesa", declarou o laureado à agência Lusa.
Por seu lado, o embaixador de Portugal junto da UNESCO, José Duarte Ramalho Ortigão, considera este prémio como sendo "muito importante e com grande prestígio a nível internacional".
O embaixador declarou que está "muito satisfeito, porque é a primeira vez que um português o recebe", o que constitui motivo de orgulho "para ele e para Portugal. Sabemos que havia candidatos de muito alto nível. Assim é premiado o seu trabalho de uma vida" acrescentou.
Adalberto Alves recebeu o prémio das mãos de Koichiro Matsuura, director-geral da UNESCO.
Como novos projectos, Adalberto Alves revelou à Lusa que prepara "uma antologia da minha poesia, em versão bilingue árabe-português, que será lançada em Marrocos, e em castelhano em Espanha.", bem como a conclusão de "um dicionário de palavras portuguesas de origem árabe".
Patrocinado pelo governo do Emirado de Sharjah, o Prémio, agora entregue a Adalberto Alves e cuja primeira edição foi em 2001, partiu de uma proposta do sheik Bin Mohamed Al-Qassimio e foi aprovado pelo Conselho Executivo da UNESCO em 1998.
Lusa (Agência de Notícias de Portugal)
Investir na língua portuguesa
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
A História Devida
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Filme "Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, baseado no romance de Saramago
«Sentes que as luzes se apagaram?»
«Não, é como se todas as luzes se acendessem ao mesmo tempo.»
"A Viagem do Elefante", de José Saramago
"Acho que o livro é, sobretudo, uma homenagem à língua portuguesa. A linguagem é constutuída por sedimentos linguísticos. A minha impressão é que esta doença transtornou a ordenação desses sedimentos: alguns que estariam no profundo passaram à superfície e tornaram-se mais conscientes. Foi uma espécie de revelação, como alguém que descobre que sabia mais do que imaginava. Construções frásicas, palavras que julgava sepultadas nos sedimentos do passado, de repente deslocaram-se para o presente. É como se tivesse captado, sem esforço, algo essencial no meu idioma. Por isso, a linguagem desta Viagem é, ao mesmo tempo, moderna e arcaica. Noutro plano, há a profunda serenidade com que vivi esse momento, inclusive o período mais agudo e perigoso da doença. Amanhã morrerás. Sim."
José Saramago, in Visão (818)
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
"A Turma", de Laurent Cantet
Leia, ainda, o texto do jornal Público.
Plano Nacional de Leitura
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Aqui ficam alguns excertos:
António Lobo Antunes: No princípio, fazia muitos planos, mas agora quando escrevo não tenho nada, absolutamente nada. As coisas aparecem-me e, quando está a correr bem, a mão fica feliz.
Gonçalo M. Tavares: O que eu sinto é que há duas fases: essa fase do prazer e, depois, a fase dolorosa, que para mim significa sofrimento puro.
ALA: A parte das correcções é horrível. Eu corto, corto, corto… É como ser professor de Português e ter que corrigir os pontos dos alunos. E, ainda por cima, pontos maus, porque as primeiras versões são de facto muito distantes daquilo que imaginávamos que o livro seria. Como aproximar tudo aquilo? Só através de correcções, correcções, correcções.
[…]
GMT: São necessárias cem versões para parecer que se escreve à primeira, não é? De qualquer modo, eu acho que há um momento a partir do qual se piora. Balzac falava muito nisso. Tira ponto, mete vírgula e, a certa altura, é preciso ir ao caixote do lixo à procura da primeira versão.
[…]
GMT: […] Quando me deram o Prémio Portugal Telecom, perguntaram-me o que é que ia fazer com o dinheiro. Eu respondi que ia comprar tempo.
ALA: Devia ter dito que ia comprar um [bolo] económico e uma carcaça. Ninguém pergunta a um banqueiro o que é que ele faz ao dinheiro, mas perguntam-no a um escritor como se nós fôssemos mendigos. Parece uma tia minha que, quando dava uma esmola, dizia: «Agora não gaste tudo em vinho.»
[…]
GMT: Há uma desvalorização da palavra. E sobretudo da palavra oral.
[…]
GMT: Noto que o movimento da escrita, mesmo corporalmente, alimenta mais escrita.
[…]
ALA: Já várias vezes disse que o importante é que o livro seja inteligente, não o autor.
[…]
GMT: O que me parece é que é fácil fazer coisas aos 38 anos. O difícil é continuar, continuar, continuar…
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Arquipélago das palavras
Ascensão e não “Ascenção”
Veja-se, a este propósito, a palavra "ascensor", que significa "elevador".
Lisboa
Empréstimos externos adaptados
Este dicionário constitui-se, hoje, como o padrão para a língua portuguesa, apesar das reservas que ainda se lhe colocam, sobretudo no que diz respeito ao aportuguesamento de alguns termos, onde a prática diária de falantes nos estilizou uma escrita mais conservadora.
Vejamos alguns dos vocábulos que, através do processo de empréstimo externo (estrangeirismos) já sofreram uma adaptação. A não adopção do termo português obriga à colocação do “estrangeirismo” dentro de aspas ou em itálico.
ANTES / AGORA
atelier / ateliê
bibelot / bibelô
breafing / brifingue
kart / carte
cartoon / cartune
gang / gangue
pivot / pivô
lobby / lóbi
motard / motar
plafond / plafom
rail / raile
stress / stresse
stand / stande
staff / stafe
troika / tróica
dossier / dossiê
hamburguer / hambúrguer
motocross / motocrosse
vip / vipe (adjectivo)
cowboy / cobói
abajour / abajur
nylon / náilon
placard / placar
roulotte / rulote
boutique / butique
bikini / biquíni
penalty / penálti