"A Viagem do Elefante", de José Saramago

"Acho que o livro é, sobretudo, uma homenagem à língua portuguesa. A linguagem é constutuída por sedimentos linguísticos. A minha impressão é que esta doença transtornou a ordenação desses sedimentos: alguns que estariam no profundo passaram à superfície e tornaram-se mais conscientes. Foi uma espécie de revelação, como alguém que descobre que sabia mais do que imaginava. Construções frásicas, palavras que julgava sepultadas nos sedimentos do passado, de repente deslocaram-se para o presente. É como se tivesse captado, sem esforço, algo essencial no meu idioma. Por isso, a linguagem desta Viagem é, ao mesmo tempo, moderna e arcaica. Noutro plano, há a profunda serenidade com que vivi esse momento, inclusive o período mais agudo e perigoso da doença. Amanhã morrerás. Sim."
José Saramago, in Visão (818)
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